No passado, as forças policiais eram respeitadas guardando sempre o glamour das fardas e divisas. Quando criança recordo-me com reforçada nitidez, que em meio as estripulias, bastava que meus pais dissessem: “Menino, fica quieto senão chamo a Rádio Patrulha!” No mesmo momento, já era suspendida a travessura.
Na realidade, não imaginava o que seria a tal “Rádio Patrulha”, mas o
respeito imposto e a forma como falavam, direcionavam a traçar em mente o seu perfil
limitador, pois se meus pais recorriam em última instância, era porque merecia
acatamento.
O tempo passou ocupando-se de mitigar a sisudez das autoridades, impondo
limites às forças públicas, inclusive de adentrarem em determinados espaços,
hoje dominados pela criminalidade.
Nesse aspecto, recentes pichações vêm demonstrando o desrespeito e a fragilidade
do poder público. Os vândalos escrevem em letras garrafais: “Matar a policia, é a nossa meta”.
A escalada criminosa nos bairros vem crescendo em progressão geométrica.
Assaltos, furtos, estupros e homicídios vêm estampando uma mancha de sangue nos
noticiários, enquanto o contingente das forças policiais diminui a cada dia, acrescido
de salários baixos, pouco incentivo e quase nenhuma (re)qualificação, delineando
a tônica do cotidiano.
Nos bairros do Jardim Luna, Brisamar e Manaíra, por exemplo, vive-se um
momento preocupante ante a invasão das comunidades carentes e ribeirinhas, hoje
colonizadas pelo tráfico e crime organizado, deixando os moradores reféns e
aprisionados com suas famílias.
As estatísticas fornecidas pelo Poder Público não conferem com a
realidade fria das ruas e dos noticiários de televisão de todas as emissoras.
A lei do desarmamento, com todo respeito aos que pensam de forma
contrária, não resolveu o problema, levando inclusive ao aumento da criminalidade,
talvez até incentivando a abertura das fronteiras para a ilegal entrada de
armas modernas que, quase sempre, são inacessíveis às autoridades policiais.
O velho “38 canela seca”, com cinco munições simples, ainda é a arma do
policial nordestino, ao passo que os criminosos ostentam “pontos 40”, escopetas
e metralhadoras.
As casas com muros altos e cercas elétricas não intimidam mais a criminalidade,
que não encontra qualquer barreira ou receio que estorve a prática delituosa, quiçá
na certeza da impunidade e da fragilidade das leis, ou na inoperância da força
policial, trabalhando no regime de “enxugar gelo” com pouco efetivo e aparato.
Essa é apenas uma das facetas sobre o assunto, uma vez que, o crime
organizado impede o desenvolvimento da educação, levando crianças às fileiras
do crime, lançadas à própria sorte e certas de que a “carreira” no crime é
curta.
Aos cidadãos resta rezar para que nenhuma tragédia aconteça aos seus
familiares mais próximos, padecendo reféns dos seus “presídios
particulares”, nos quais se transformaram as suas residências, enquanto que,
nas ruas, o circo pega fogo.